ERA VARGAS (Texto 01)
A Era Vargas é a fase da história brasileira em
que Getúlio Vargas governou o país de 1930 a 1945. Foi forçado a renunciar à
presidência após um ultimato dos militares.
Era Vargas
foi um período iniciado em 1930, logo após a Revolução de 1930, e finalizado em 1945 com a deposição
de Getúlio Vargas. Nesse período da história brasileira, o poder esteve centralizado em Getúlio
Vargas, que assumiu como presidente do Brasil após o movimento que depôs Washington Luís da presidência.
A Era Vargas foi o período de quinze
anos da história brasileira que se estendeu de 1930 a 1945 e no qual Getúlio
Vargas era o presidente do país. A ascensão de Vargas ao poder foi resultado
direto da Revolução de 1930, que destituiu Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes (presidente
eleito que assumiria o país).
Ao longo desse período, Getúlio Vargas
procurou centralizar o poder. Muitos historiadores, inclusive, entendem o
período 1930-1937 como a “gestação” da ditadura de Vargas. Vargas também ficou
marcado pela sua aproximação com as massas, característica que se tornou muito
marcante durante o Estado Novo.
Permaneceu no poder até 1945, quando foi forçado a renunciar à presidência por causa de um ultimato dos militares. Com a saída de Vargas do poder, foi organizada uma nova Constituição para o país e iniciada outra fase da nossa história: a Quarta República (1946-1964).
Características
da Era Vargas
Resumir as características da Era Vargas
é uma tarefa complexa, principalmente porque cada fase assumiu aspectos
diferentes. De maneira geral, as seguintes características podem ser
destacadas.
·
Centralização
do poder → Ao
longo de seus quinze anos no poder, Vargas tomou medidas para enfraquecer o
Legislativo e reforçar os poderes do Executivo. Essa característica ficou
evidente durante o Estado Novo.
·
Política
Trabalhista →
Vargas atuou de maneira consistente no sentido de ampliar os benefícios trabalhistas.
Para isso, criou o Ministério do Trabalho e concedeu direitos aos
trabalhadores. Era uma forma de reforçar seu poder aproximando-se das massas.
·
Propaganda
Política → O uso
da propaganda como forma de ressaltar as qualidades de seu governo foi uma
marca forte de Vargas e que também ficou evidente durante o Estado Novo a
partir do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP.)
·
Capacidade
de negociação política →
A capacidade política de Vargas não surgiu do nada, mas foi sendo construída e
aprimorada ao longo de sua vida política. Vargas tinha uma grande capacidade de
conciliar grupos opostos em seus governos, como aconteceu em 1930, quando
oligarquias dissidentes e tenentistas estavam no mesmo grupo apoiando-lhe.
A postura de Vargas no poder do Brasil
durante esse período pode ser também relacionada com o populismo,
principalmente pelos seguintes aspectos:
1.
Relação
direta e não institucionalizada do líder com as massas;
2.
Defesa
da união das massas;
3.
Liderança
baseada no carisma;
4.
Sistema
partidário frágil.
A ascensão de Getúlio Dornelles Vargas à
presidência aconteceu pela implosão do modelo político que existia no Brasil
durante a Primeira República. Ao longo da década de 1920, inúmeras
críticas foram feitas ao sistema oligárquico que vigorava em nosso país, sendo
os tenentistas
um dos movimentos de oposição de maior destaque.
A implosão da Primeira República
concretizou-se de fato durante a eleição de 1930. Nessa eleição, a oligarquia
mineira rompeu abertamente com a oligarquia paulista porque o presidente
Washington Luís recusou-se
a indicar um candidato mineiro para concorrer ao cargo. A indicação para
presidente foi do paulista Júlio Prestes.
Isso desagradou profundamente à
oligarquia mineira, uma vez que a atitude do presidente rompia com o acordo
existente entre as duas oligarquias (Política do Café com Leite). Assim, os mineiros passaram a
conspirar contra o governo e, aliando-se às oligarquias paraibana e gaúcha, optaram por
lançar um candidato para concorrer à presidência: Getúlio Vargas.
A disputa eleitoral travada entre Júlio
Prestes e Getúlio Vargas teve como desfecho a vitória do primeiro. No entanto,
mesmo derrotados, membros da chapa eleitoral de Vargas (chamada Aliança Liberal) começaram a
conspirar para destituir Washington Luís do poder (Vargas, porém, havia
aceitado a derrota).
Essa conspiração tornou-se rebelião de
fato quando João
Pessoa,
vice de Getúlio Vargas, foi assassinado
em Recife por João Dantas. O assassinato de João Pessoa não tinha nenhuma
relação com a eleição disputada, mas o acontecido foi utilizado como pretexto
para que um levante militar contra Washington Luís fosse iniciado.
A revolta iniciou-se em 3 de outubro de
1930 e estendeu-se por três semanas. No dia 24 de outubro de 1930, o presidente
Washington Luís foi deposto
da presidência. Uma junta militar governou o Brasil durante 10
dias e, em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas, que aderiu à rebelião quando
ela estava em curso, assumiu a presidência do Brasil.
Fases
da Era Vargas
Os historiadores dividem a Era Vargas em
três fases: Governo Provisório (1930-34), Governo Constitucional (1934-37) e Estado Novo (1937-1945).
Acesse também: Olga Benário, a mulher que foi deportada
por Vargas para a Alemanha Nazista
·
Governo Provisório (1930-34)
O governo provisório, como o próprio
nome sugere, deveria ter sido uma fase de transição em que Vargas rapidamente organizaria
uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição para o Brasil.
Getúlio Vargas, porém, nesse momento, já deu mostras da sua habilidade de se
sustentar no poder, pois adiou o quanto foi possível a realização da
Constituinte.
Nessa fase, Vargas já realizou as
primeiras medidas de centralização
do poder e, assim, dissolveu
o Congresso Nacional, por exemplo. A demora de Vargas em
realizar eleições e convocar uma Constituinte teve impactos em alguns locais do
país, como São Paulo, que se rebelou contra o governo em 1932 no que ficou
conhecido como Revolução
Constitucionalista de 1932.
O movimento foi um fracasso e, após a
sua derrota, Getúlio Vargas atendeu as demandas dos paulistas, nomeando para o
estado um interventor (governador) civil e nascido em São Paulo, além de
garantir a realização de uma eleição em 1933 para compor a Constituinte. Dessa
Constituinte, foi promulgada a Constituição
de 1934.
A nova Constituição foi considerada
bastante moderna para a época e trouxe novidades, como o sufrágio universal feminino
(confirmando o que já havia sido estipulado pelo Código Eleitoral de 1932).
Junto da promulgação da nova Constituição, Vargas foi reeleito indiretamente
para ser presidente brasileiro entre 1934 e 1938. Após isio, um novo presidente
deveria ser eleito.
Nessa fase, a política econômica de
Vargas concentrou-se em combater os efeitos da Crise de 1929 no Brasil. Para isso, agiu comprando
milhares de sacas de café e incendiando-as como forma de valorizar o principal
produto da nossa economia. Nas questões trabalhistas, autorizou a criação do Ministério do Trabalho
em 1930 e começou a intervir diretamente na atuação dos sindicatos.
·
Governo Constitucional (1934-1937)
Na fase constitucional, o governo de
Vargas, em teoria, estender-se-ia até 1938, pois o presidente não poderia
concorrer à reeleição. No entanto, a política brasileira como um todo – o
próprio Vargas, inclusive – caminhava para a radicalização. Assim, surgiram grupos que
expressavam essa radicalização do nosso país.
1.
Ação
Integralista Brasileiro
(AIB): grupo de extrema-direita que surgiu em São
Paulo em 1932. Esse grupo possuía inspiração no fascismo italiano, expressando valores nacionalistas e
até mesmo antissemitas. Tinha como líder Plínio Salgado.
2.
Aliança
Libertadora Nacional
(ANL): grupo de orientação comunista que surgiu como frente de luta
antifascista no Brasil e converteu-se em um movimento que buscava tomar o poder
do país pela via revolucionária. O grande líder desse grupo era Luís Carlos Prestes.
A ANL, inclusive, foi a responsável por
uma tentativa de tomada do poder aqui no Brasil em 1935. Esse movimento ficou
conhecido como Intentona Comunista e foi deflagrado em três cidades (Rio
de Janeiro, Natal e Recife), mas foi um fracasso completo. Após a Intentona
Comunista, Getúlio Vargas ampliou as medidas centralizadoras e autoritárias, o
que resultou no Estado Novo.
Essa fase constitucional da Era Vargas
estendeu-se até novembro de 1937, quando Getúlio Vargas realizou um autogolpe,
cancelou a eleição de 1938 e instalou um regime ditatorial no país. O golpe do
Estado Novo teve como pretexto a divulgação de um documento falso conhecido
como Plano Cohen.
Esse documento falava sobre uma conspiração comunista que estava em curso no
país.
Acesse também: Intentona Integralista,
outra rebelião organizada durante a Era Vargas
·
Estado Novo (1937-1945)
O Estado Novo foi a fase ditatorial da Era
Vargas e estendeu-se por oito anos. Nesse período, Vargas reforçou o seu poder,
reduziu as liberdades civis e implantou a censura. Também foi o período de
intensa propaganda política e um momento em que Vargas estabeleceu sua política
de aproximação das massas.
No campo político, Vargas governou a
partir de decretos-leis,
ou seja, as determinações de Vargas não precisavam de aprovação do Legislativo,
pois já possuíam força de lei. O Legislativo, por sua vez, foi suprimido e,
assim, o Congresso e as Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais foram fechadas. Todos os
partidos políticos foram fechados e colocados na ilegalidade.
A censura
instituída ficou a cargo do Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável por censurar as
opiniões contrárias ao governo e produzir a propaganda que ressaltava o regime
e o líder. Para fazer a propaganda do governo, foi criado um jornal diário na
rádio chamado “A Hora do
Brasil”.
Durante esse período, também se destacou
a política trabalhista, destacando-se a criação do salário-mínimo (1940) e Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT) em 1943. Os sindicatos passaram para o controle do Estado.
A participação brasileira
na Segunda Guerra e o
desgaste desse projeto político autoritário enfraqueceram o Estado Novo perante
a sociedade. Assim demandas por novas eleições começaram a acontecer.
Pressionado, Vargas decretou para o fim de 1945 a realização de eleição
presidencial e, em outubro desse mesmo ano, foi deposto do poder pelos
militares.
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
(Texto 02)
A Primeira Guerra
Mundial foi um conflito que ocorreu entre 1914 e 1918 e ficou muito conhecida
em razão dos combates que aconteciam nas trincheiras.
A Primeira Guerra Mundial foi um marco na
história da humanidade. Foi a primeira guerra do século XX e o primeiro
conflito em estado de guerra total – aquele em que uma nação
mobiliza todos os seus recursos para viabilizar o combate. Estendeu-se de 1914
a 1918 e foi resultado das transformações que aconteciam na Europa, as quais
fizeram diferentes nações entrar em choque.
O resultado da Primeira Guerra Mundial foi um trauma
drástico. Uma geração de jovens cresceu traumatizada com os horrores da
guerra. A frente de batalha, sobretudo a Ocidental, ficou marcada pela
carnificina vivida nas trincheiras e um saldo de 10 milhões de mortos.
Os desacertos da Primeira Guerra Mundial contribuíram para que, em 1939, uma
nova guerra acontecesse.
Causas
As causas da Primeira Guerra Mundial são
extremamente complexas e envolvem uma série de acontecimentos não resolvidos
que se arrastavam desde o século XIX: rivalidades econômicas, tensões
nacionalistas, alianças militares etc.
De maneira geral, os principais fatores
que contribuíram para o início da Primeira Guerra Mundial foram:
·
disputas
imperialistas;
·
nacionalismos;
·
alianças
militares;
·
corrida
armamentista.
Na questão imperialista, o enfoque pode ser
dado ao temor que a ascensão da Alemanha gerou em nações como Rússia, França e
Grã-Bretanha. Os alemães haviam passado pelo processo de unificação na segunda metade do século XIX e, após
isso, lançaram-se à busca de colônias para seu país. Isso prontamente chamou
a atenção da França, por exemplo, que via seus interesses serem prejudicados
com o fortalecimento alemão.
A
questão dos nacionalismos envolveu diferentes nações. A Alemanha
encabeçava um movimento conhecido como pangermanismo.
Esse movimento nacionalista servia como suporte ideológico para o Império
Alemão defender os seus interesses de expansão territorial no começo do século
XX. O pangermanismo ainda se expressava nas questões econômicas, pois os
alemães pretendiam colocar-se como a força econômica e militar hegemônica da
Europa.
Na questão nacionalista, havia também o revanchismo francês.
Essa questão envolvia os ressentimentos que existiam na França a respeito do
desfecho da Guerra Franco-Prussiana, conflito travado entre Prússia e
França em 1870 e 1871. A derrota francesa foi considerada humilhante,
principalmente por dois fatores: a rendição ter sido assinada na Galeria dos
Espelhos, no Palácio de Versalhes, e pela perda da Alsácia-Lorena. Após o fim
desse conflito, a Prússia autoproclamou-se como Império Alemão.
A questão nacionalista mais complexa
envolvia os Bálcãs,
região no sudeste do continente europeu. No começo do século XX, os Bálcãs eram
quase inteiramente dominados pelo Império Áustro-Húngaro, que estava em ruínas
por causa da multiplicidade de nacionalidades e movimentos separatistas que
existiam em seu território.
A grande tensão nos Bálcãs envolvia a
Sérvia e a Áustria-Hungria na questão referente ao controle da Bósnia. Os
sérvios lutavam pela formação da Grande
Sérvia e, por isso, desejavam anexar a Bósnia ao seu território
(a Bósnia era parte da Áustria-Hungria desde 1908 oficialmente). Esse movimento
nacionalista de sérvios era apoiado pela Rússia por meio do pan-eslavismo, ideal em
que todos os eslavos estariam unidos em uma nação liderada pelo czar russo.
Tendo em vista todo esse quadro de
tensão e rivalidades, as nações europeias meteram-se em um labirinto de
alianças militares, que acabou sendo definido da seguinte maneira:
·
Tríplice
Entente: formada
por Rússia, Grã-Bretanha e França.
·
Tríplice
Aliança: formada
por Alemanha, Áustria-Hungria, Império Otomano e Itália.
Esses acordos militares incluíam cláusulas
secretas de cooperação militar caso uma nação fosse atacada por outra nação
adversária. Por fim, toda essa hostilidade deu a garantia para todas as
potências e chefes de Estado na Europa de que a guerra era apenas questão de
tempo. Por essa razão, as nações europeias iniciaram uma corrida armamentista com
o objetivo de se fortalecer para o conflito que ocorreria.
Gavrilo Princip sendo preso após cometer
o atentado que causou a morte de Francisco Ferdinando.
O resultado da visita do arquiduque foi
que Gavrilo Princip,
membro de um movimento nacionalista bósnio, armado de um revólver, meteu-se à
frente do carro que levava Francisco Ferdinando e sua esposa, Sofia. Ele abriu
fogo, assassinando
ambos. A consequência direta do ato foi uma crise política gravíssima que ficou
conhecida como Crise de
Julho.
Como não houve saída diplomática para a
Crise de Julho, a consequência final foram declarações de guerra acontecendo em
cadeia. Em 29 de julho, a Áustria declarou guerra à Sérvia; no dia 30, russos
(em defesa da Sérvia), alemães e austríacos mobilizaram seus exércitos. Em 1º
de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia e, no dia 3, à França. No dia 4,
o Reino Unido declarou guerra à Alemanha. Era o começo da Primeira Guerra
Mundial.
Países
envolvidos
Como mencionado no texto, os dois grupos
que lutaram entre si na Primeira Guerra Mundial ficaram conhecidos como Tríplice Aliança (as
principais forças eram a Alemanha, Áustria-Hungria, Império Otomano e Itália) e
Tríplice Entente
(as principais forças eram a Rússia, Grã-Bretanha e França). No caso da Itália,
o país fazia parte da Tríplice Aliança, mas recusou-se a participar da guerra
quando ela se iniciou. Em 1915, a Itália aderiu à Tríplice Entente.
Naturalmente, a Primeira Guerra Mundial
não se resumiu ao envolvimento desses países, pois diversas outras nações
envolveram-se no conflito. No lado da Entente, países como Grécia, Estados
Unidos, Canadá, Japão e até mesmo o Brasil entraram no confronto. No lado da
Tríplice Aliança, houve a participação da Bulgária e de outros povos e Estados
clientes, como o Sultanato de Darfur.
Onde
ocorreu a Primeira Guerra Mundial?
Os combates da Primeira Guerra Mundial,
em sua maioria, aconteceram no continente europeu. Na Europa, destacaram-se a
Frente Ocidental, em que os alemães lutaram contra franceses e britânicos, e a
Frente Oriental, em que os alemães lutaram contra sérvios e russos. Durante a
guerra, houve também batalhas no Oriente Médio, isto é, nas regiões que estavam
sob domínio do Império Otomano.
Fases
da Primeira Guerra
Utilizando a classificação do estudioso
Luiz de Alencar Araripe, a Primeira Guerra Mundial pode ser dividida em duas
grandes fases1.
A primeira fase
ficou conhecida como Guerra
de Movimento e aconteceu entre agosto e novembro de 1914. A segunda fase ficou
conhecida como Guerra de
Trincheiras e ocorreu entre 1915 e 1918.
Da primeira fase da guerra, destacou-se o plano
alemão de invasão da França pelo território belga, o chamado Plano
Schlieffen. Esse plano foi elaborado pelo conde Alfred von Schlieffen
e consistia basicamente em uma manobra para envolver as tropas francesas e
conquistar Paris, a capital da França.
Poucos meses depois que os franceses conseguiram
impedir os alemães de conquistar Paris, iniciou-se a segunda fase da guerra,
caracterizada pelas trincheiras. As trincheiras eram corredores
subterrâneos construídos para abrigar os soldados e separar os exércitos que
lutavam entre si. Muitas vezes, a distância entre uma trincheira e outra era
mínima.
Soldados americanos utilizando máscaras
para se proteger das armas químicas utilizadas na frente de batalha.
A respeito dos horrores da Guerra de
Trincheiras travada na Frente Ocidental, vale ressaltar o relato feito pelo
historiador Eric Hobsbawm:
Milhões de homens
ficavam uns diante dos outros nos parapeitos de trincheiras barricadas com
sacos de areia, sob as quais viviam como – e com – ratos e piolhos. De vez em
quando seus generais procuravam romper o impasse. Dias e mesmo semanas de
incessante bombardeio de artilharia […] “amaciavam” o inimigo e o mandavam para
baixo da terra, até que no momento certo levas de homens saíam por cima do
parapeito, geralmente protegido por rolos e teias de arame farpado, para a
“terra de ninguém”, um caos de crateras de granadas inundadas de água, tocos de
árvore calcinadas, lama e cadáveres abandonados, e avançavam sobre as
metralhadoras, que os ceifavam, como eles sabiam que aconteceria2.
Na Frente Ocidental, destacaram-se
batalhas como Verdun
e Somme em
que a luta nas trincheiras causou a morte de milhões de soldados de ambos os
lados. Na Frente Oriental, os alemães conseguiram impor pesadas derrotas aos
russos em batalhas como a de Tannenberg,
garantindo grandes conquistas territoriais.
A violência da guerra também foi
destacada durante os combates que aconteceram na Sérvia. No Oriente Médio,
destacou-se a perseguição que o Império Otomano promoveu contra os armênios, o
que levou ao Genocídio
Armênio. A Primeira Guerra também registrou combates aéreos e
uma disputa acirrada entre alemães e britânicos no mar.
Em 1917, os Estados Unidos, presididos
por Woodrow Wilson, entraram na guerra quando uma embarcação britânica foi
atacada por alemães, causando a morte de mais de uma centena de americanos.
Nesse mesmo ano, os russos, fragilizados por tantas derrotas e por uma crise
econômica duríssima, retiraram-se da guerra, e a Revolução Russa consolidou o socialismo no país.
A Primeira Guerra Mundial encerrou-se
como resultado do esfacelamento das forças da Tríplice Aliança. Bulgária,
Áustria-Hungria e Império Otomano renderam-se, sobrando apenas a Alemanha. O
Império Alemão, arrasado pela guerra, também se rendeu após uma revolução
estourar no país e levar ao fim da monarquia alemã. Aqueles que implantaram a república no país (os social-democratas) optaram
por um armísticio
para colocar fim à guerra após quatro anos.
Consequências
Delegações reunidas durante a assinatura
do Tratado de Versalhes na Galeria dos Espelhos, em 1919.
A Alemanha perdeu todas as suas colônias
ultramarinas, além de territórios na Europa. Foi obrigada a pagar uma multa
pesadíssima, que arrastou o país pra uma crise econômica sem precedentes na sua
história. Suas forças militares foram restritas a 100 mil soldados de
infantaria. A rigidez dos termos do Tratado de Versalhes é entendida pelos
historiadores como a porta que deu abertura para o surgimento e crescimento do nazismo.
O fim da guerra também marcou a
reconfiguração do mapa europeu por causa do esfacelamento dos Império Alemão,
Austro-húngaro e Otomano. Diversas novas nações surgiram, como Polônia,
Finlândia, Iugoslávia etc.
REVOLUÇÃO RUSSA (1917)
(Texto 03)
A Revolução Russa de 1917 foram dois
levantes populares: o primeiro ocorrido em fevereiro, contra o governo do czar
Nicolau II, e o segundo, em outubro.
Na Revolução de Fevereiro, os revolucionários
aboliram a monarquia e, na Revolução de Outubro, começaram a implantar um
regime de governo baseado em ideias socialistas.
Causas da Revolução Russa:
contexto histórico
Na Rússia, durante o século XIX, a falta de
liberdade era quase absoluta.
No campo, reinava uma forte tensão social, devido à
grande concentração de terras na mão da nobreza. A Rússia foi o último país a
abolir a servidão, em 1861 e em muitos lugares, continuava-se com o sistema de
produção feudal.
A reforma agrária promovida pelo czar Alexandre II
(1855-1881), pouco adiantou para aliviar as tensões no campo. O regime czarista
reprimia a oposição e a Ochrana, polícia política, controlava o ensino,
a imprensa e os tribunais.
Milhares de pessoas eram enviadas ao exílio na
Sibéria condenadas por crimes políticos. Capitalistas e latifundiários
mantinham o domínio sobre os trabalhadores urbanos e rurais.
No governo do czar Nicolau II (1894-1917), a Rússia
acelerou seu processo de industrialização aliada ao capital estrangeiro. Os
operários concentraram-se em grandes centros como Moscou e São Petersburgo.
Apesar disso, as condições de vida pioraram, com a
fome, o desemprego e a diminuição dos salários. A burguesia também não era
beneficiada, pois o capital estava concentrado nas mãos dos banqueiros e dos
grandes empresários.
A oposição ao governo crescia. Um dos maiores
partidos de oposição era o Partido Social Democrata, mas seus líderes,
Plekhanov e Lenin, tinham que viver fora da Rússia para fugir das perseguições
políticas.
O Partido Operário Social-Democrata Russo era
crítico com a política do país. Porém, as divergiam de como solucionar os
problemas da Rússia. Isto acabou por dividi-lo em duas correntes:
·
Bolcheviques (maioria, em russo), liderados por Lenin, defendiam a ideia
revolucionária da luta armada para chegar ao poder.
·
Mencheviques (minoria, em russo), liderados por Plekhanov, defendiam a ideia
evolucionista de se conquistar o poder através de vias normais e pacíficas
como, por exemplo, as eleições.
Revolução de 1917:
Antecedentes
Em janeiro de 1905, um grupo de operários
participava de uma manifestação pacífica em frente ao Palácio de Inverno de São
Petersburgo, uma das sedes do governo. O objetivo era entregar um abaixo
assinado ao czar, pedindo melhorias.
Diante da pressão revolucionária, o czar
promulgou uma Constituição e permitiu a convocação de eleições para a Duma (Parlamento). A
Rússia tornava-se assim uma monarquia
constitucional, embora o czar ainda concentrasse grande poder, e o
Parlamento tivesse uma atuação limitada.
Na realidade, o governo ganhou tempo e
organizou as reações contra as agitações sociais e os sovietes. Estes eram
assembleias de operários, soldados ou camponeses que se organizaram após a
Revolução de 1905. Mais tarde teriam um papel essencial da Revolução de 1917.
Ainda em 1905, outro fator de
descontentamento foi a derrota na guerra Russo-japonesa. A Rússia perdeu o
conflito para o Japão que era considerado um povo inferior e teve que ceder
algumas ilhas para este país.
Atuação da Rússia na
Primeira Guerra Mundial
Durante a Primeira Guerra Mundial, como membro da Tríplice Entente, a
Rússia lutou ao lado da Inglaterra e da França, contra a Alemanha e o Império
Austro-Húngaro.
No entanto, o exército russo
encontrava-se despreparado para o confronto. As consequências foram derrotas em
várias batalhas que deixaram a Rússia enfraquecida e economicamente
desorganizada.
Em março, o movimento revolucionário foi
deflagrado, com greves se iniciando em São Petersburgo e que se espalharam por
vários centros industriais. Os camponeses também se rebelaram.
A maior parte dos militares aderiu aos
revolucionários e força a abdicação do czar Nicolau II, em fevereiro de 1917.
Lenin discursa para
um grupo de soldados
Após a abdicação do czar, forma-se um
Governo Provisório, sob a chefia de Kerensky, que se veria envolvido em
disputas entre liberais e socialistas.
Sofrendo pressões dos sovietes, o
governo concedeu anistia aos prisioneiros e exilados políticos. De volta à
Rússia, os bolcheviques, liderados por Lenin e Trotsky, organizaram um
congresso onde defendiam lemas como: “Paz,
terra e pão” e “Todo
o poder aos sovietes”.
No dia 7 de novembro (25 de outubro no
calendário gregoriano), operários e camponeses, sob a liderança de Lenin,
tomaram o poder. Os bolcheviques distribuíram as terras entre os camponeses e
estatizaram os bancos, as estradas de ferro e as indústrias, que passaram para
o controle dos operários.
Consequências da
Revolução Russa
A Rússia se retira da
Primeira Guerra
O primeiro ato importante do novo
governo foi retirar a Rússia da guerra. Para isso, em fevereiro de 1918, foi
assinado o Tratado de Brest-Litovsk com as Potências Centrais.
Este determinava a entrega da Finlândia,
Países Bálticos, Polônia, Ucrânia e Bielorrússia, além de distritos no Império
Otomano e na região da Geórgia.
Guerra civil na Rússia
Os quatro primeiros anos de governo
bolchevique foram marcados por uma guerra civil
que abalou profundamente o país.
Igualmente, para evitar qualquer
tentativa de restauração monárquica, o czar Nicolau II e sua família foram
assassinados sem qualquer tipo de julgamento, em julho de 1918.
O Exército Vermelho, criado por Leon Trotsky,
derrotou o Exército Branco, formado por nobres e burgueses, garantindo a
permanência dos bolcheviques no poder. A revolução estava salva, mas a
paralisação econômica era quase total.
Para restaurar a confiança no governo,
foi criada a NEP
(Nova Política Econômica), que permitia a entrada de capital estrangeiro e o
funcionamento de empresas particulares. A aplicação da NEP resultou no
crescimento industrial e agrícola da Rússia.
Conclusão da Revolução
Russa
Em 1922 foi estabelecida a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), sob liderança de Lenin. Após sua
morte, em 1924, iniciou-se uma luta pelo poder entre Trotsky e Stalin.
Derrotado, Trotsky foi expulso do país
e, em 1940, foi morto na cidade do México, por um assassino a serviço de
Stalin. Sob seu governo, a URSS conheceu uma das mais violentas ditaduras da
história, ao mesmo tempo que passava por um crescimento econômico vertiginoso.
Durante a II Guerra Mundial, o país
seria um dos principais inimigos do nazismo, aliado dos Estados Unidos e do Reino
Unido.
Após o conflito, seria alçada à condição
de segunda potência mundial.
Veja também: Stalinismo na URSS
Revolução Russa: resumo
A Revolução Russa, ocorrida em 1917,
foram dois levantes populares ocorridos em fevereiro e outubro.
No entanto, a agitação social vinha de
longe. Em 1905, manifestantes pediram ao czar Nicolau II melhores condições de
vida, mas foram rechaçados à bala. Como consequência, o monarca procurou
modernizar o país com eleições para um parlamento (Duma) e uma Constituição.
Com a entrada da Rússia na Primeira Guerra
(1914-1917), a situação só piorou. Vários soldados desertaram, oficiais
passaram a conspirar contra o czar e este foi deposto através da Revolução de
Fevereiro de 1917.
Embora tenham abolido a monarquia, muitos
revolucionários achavam que não era suficiente. Assim, um novo golpe é dado,
desta vez pelos bolcheviques e camponeses, que instituem um regime mais próximo
ao socialismo através da Revolução de Outubro.
ATIVIDADES 2º BIMESTRE (Vale
10,0Pts)
1. Nos primeiros anos do governo
Vargas, as organizações operárias sob controle das correntes de esquerda
tentaram se opor ao seu enquadramento pelo Estado. Mas a tentativa fracassou.
Além do governo, a própria base dessas organizações pressionou pela
legalização. Vários benefícios, como as férias e a possibilidade de postular
direitos perante às Juntas de Conciliação e Julgamento, dependiam da condição
de ser membro de sindicato reconhecido pelo governo.
FAUSTO, B. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp; Imprensa Oficial do Estado, 2002 (adaptado).
No contexto histórico retratado pelo texto, a relação entre governo e movimento sindical foi caracterizada
a) pelo reconhecimento de diferentes ideologias políticas.
b) por um diálogo democraticamente constituído.
c) pelas benesses sociais do getulismo.
2.
(Enem/2017) Estão aí, como se sabe, dois candidatos à presidência, os senhores
Eduardo Gomes e Eurico Dutra, e um terceiro, o senhor Getúlio Vargas, que deve
ser candidato de algum grupo político oculto, mas é também o candidato popular.
Porque há dois “queremos”: o “queremos” dos que querem ver se continuam nas
posições e o “queremos” popular… Afinal, o que é que o senhor Getúlio Vargas é?
É fascista? É comunista? É ateu? É cristão? Quer sair? Quer ficar? O povo,
entretanto, parece que gosta dele por isso mesmo, porque ele é “à moda da
casa”.
A Democracia. 16 set. 1945. apud GOMES. A.C.;
D’ARAÚJO, M. C. Getulismo e trabalhismo. São Paulo: Ática. 1989.
O movimento político mencionado no texto
caracterizou-se por
a) demandar a confirmação dos direitos
trabalhistas.
b) apoiar a permanência da ditadura estadonovista.
c) resgatar a representatividade dos sindicatos sob controle social.
d) reivindicar a transição constitucional sob influência do governante.
e) reclamar a participação das agremiações partidárias.
3. Durante o
Estado Novo, os encarregados da propaganda procuraram aperfeiçoar-se na arte da
empolgação e envolvimento das “multidões” através das mensagens políticas.
Nesse tipo de discurso, o significado das palavras importa pouco, pois, como
declarou Goebbels, “não falamos para dizer alguma coisa, mas para obter
determinado efeito”.
CAPELATO, M. H. Propaganda política e controle dos meios de comunicação. In: PANDOLFI, D. (Org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
O controle sobre os meios de comunicação foi uma marca do Estado Novo, sendo fundamental à propaganda política, na medida em que visava
a) conquistar o apoio popular na legitimação do
novo governo.
b) ampliar o envolvimento das multidões nas
decisões políticas.
c) aumentar a oferta de informações públicas para a
sociedade civil.
d) estender a participação democrática dos meios de
comunicação no Brasil.
e) alargar o entendimento da população sobre as intenções do novo governo.
4.
Essa imagem foi impressa em cartilha escolar durante a vigência do Estado Novo com o intuito de
a) destacar a sabedoria inata do líder
governamental.
b) atender a necessidade familiar de obediência
infantil.
c) promover o desenvolvimento consistente das
atitudes solidárias.
d) conquistar a aprovação política por meio do
apelo carismático.
e) estimular o interesse acadêmico por meio de
exercícios intelectuais.
5. Em relação
às causas da Primeira Guerra Mundial é correto afirmar que:
a) A incapacidade dos Estados liberais em
solucionar a crise econômica do século XIX colocou em xeque toda a estrutura do
sistema capitalista. A instabilidade política e social das nações europeias
impulsionou as disputas colonialistas e o conflito entre as potências.
b) A desigualdade de desenvolvimento das nações
capitalistas europeias acentuou a rivalidade imperialista. A disputa colonial
marcada por um nacionalismo agressivo e pela corrida armamentista expandiu os
pontos de atrito entre as potências.
c) O sucesso da política de apaziguamento e do
sistema de aliança equilibrou o sistema de forças entre as nações europeias,
acirrando as lutas de conquista das colônias da África e da Ásia.
d) O expansionismo na Áustria, a invasão da Polônia
pelas tropas alemãs assustaram a Inglaterra e a França, que reagiram contra a
agressão declarando guerra ao inimigo.
e) O desequilíbrio entre a produção e consumo
incentivou a conquista de novos mercados produtores de matérias-primas e
consumidores de bens de produção reativando as rivalidades entre os países
europeus e os da América do Norte.
6. Três
décadas — de 1884 a 1914 — separam o século XIX — que terminou com a corrida
dos países europeus para a África e com o surgimento dos movimentos de
unificação nacional na Europa — do século XX, que começou com a Primeira Guerra
Mundial. É o período do Imperialismo, da quietude estagnante na Europa e dos
acontecimentos empolgantes na Ásia e na África.
ARENDT, H. As origens do totalitarismo. São Paulo:
Cia. das Letras, 2012.
O processo histórico citado contribuiu para a eclosão da Primeira Grande
Guerra na medida em que
7. A primeira
metade do século XX foi marcada por conflitos e processos que a inscreveram
como um dos mais violentos períodos da história humana.
Entre os principais fatores que estiveram na origem dos conflitos ocorridos durante a primeira metade do século XX estão:
a) a crise do colonialismo, a ascensão do nacionalismo
e do totalitarismo.
b) o enfraquecimento do império britânico, a Grande
Depressão e a corrida nuclear.
c) o declínio britânico, o fracasso da Liga das
Nações e a Revolução Cubana.
d) a corrida armamentista, o terceiro-mundismo e o
expansionismo soviético.
e) a Revolução Bolchevique, o imperialismo e a
unificação da Alemanha.
8. A
revolução de fevereiro de 1917, na Rússia, pode ser caracterizada como:
a) uma luta encabeçada por Lenin para estabelecer
um estado soviético.
b) uma reação da Igreja Ortodoxa contra a
prepotência de Rasputin.
c) um conflito de inspiração rural a fim de apoiar
os mujiques.
d) um movimento de caráter burguês com o objetivo
de depor o czar Nicolau II.
e) um esforço de intelectuais, comprometidos com as
ideias anarquistas de Bakunin.
9. Com
relação ao processo revolucionário russo que culminou com a tomada do poder
pelos bolcheviques em 1917, pode-se afirmar que:
a) Na fase denominada Comunismo de Guerra, uma das
primeiras medidas tomadas por Lenin foi a nacionalização dos bancos e das
principais indústrias.
b) O governo provisório liderado por Kerensky, tão
logo assumiu o poder retirou a Rússia da Guerra através do Tratado de
Brest-Litovsky
c) O lema “Paz, Terra e Pão” adotado por Stalin,
foi fundamental para a mobilização do campesinato e seu engajamento na luta ao
lado dos mencheviques.
d) Na guerra civil entre brancos e vermelhos, os
brancos receberam auxílio de mercenários de toda a Europa, recrutados por
países capitalistas.
e) Na fase da NEP (Nova Política Econômica) houve
estatização definitiva de todas as indústrias bem como a proibição da entrada
de técnicos estrangeiros.
10. "...
derrotas na guerra, deserções, motins militares contra os superiores, greves
nas fábricas, falta de gêneros alimentícios e combustíveis nas principais
cidades, queda na produção, aviltamento dos salários, incapacidade
governamental, desemprego e crescente miséria das massas."
O quadro descrito no texto conduziu à:
a) crescente insatisfação da burguesia russa em relação
ao governo do Czar.
b) entrada da Rússia na I Grande Guerra.
c) rebelião Boxer na China em 1900.
d) Segunda Guerra Mundial em 1939.
e) Revolução Russa em 1917.
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